PRESIDENTE DA ACEBRA FALA SOBRE O ERRO DO GOVERNO AO EDITAR A MP1227

Jerônimo Goergen, presidente da ACEBRA. Foto: Marcel Rodrigues

A Medida Provisória 1227, recentemente editada pelo governo, tem suscitado debates acalorados e críticas contundentes por diversos setores da sociedade. Considerada por muitos como um passo em falso, a MP1227 exemplifica como decisões precipitadas e mal planejadas podem acarretar em consequências negativas de longo alcance para a economia e a gestão pública. Um dos erros mais críticos ao editar a MP1227 foi a ausência de um processo transparente e de diálogo com as partes interessadas. Medidas provisórias, por sua natureza, são instrumentos de caráter urgente, mas a urgência não deve ser um pretexto para ignorar a consulta pública e a participação de especialistas e entidades do setor. O governo deixou de engajar associações de classe, representantes da indústria e da sociedade civil em discussões prévias, resultando em uma medida que não refletiu as necessidades e as realidades do mercado.

A MP1227, ao alterar de forma abrupta regras e regulamentos existentes, gerou incertezas econômicas que podem desestabilizar setores chave da economia. Alterações em impostos, subsídios ou regulamentações podem ter repercussões significativas, especialmente se não forem bem comunicadas ou planejadas. Empresas podem postergar investimentos, trabalhadores podem enfrentar insegurança no emprego e o mercado pode reagir negativamente, aumentando a volatilidade econômica. A falta de um estudo de impacto detalhado antes da edição da MP foi uma falha que subestimou os potenciais efeitos adversos. Outro aspecto preocupante da MP1227 foi a sua aparente desconexão com a realidade dos setores afetados. Sem uma compreensão aprofundada das dinâmicas e desafios específicos, a medida falhou em criar soluções eficazes. Por exemplo, se a MP visava desonerar certos segmentos da economia, ela acabou por impor novas obrigações que, em vez de aliviar, aumentaram a carga regulatória. A falta de um diagnóstico preciso e de uma abordagem personalizada resultou em medidas genéricas e, muitas vezes, contraproducentes.

Além dos impactos econômicos, a MP1227 enfrentou críticas no campo jurídico e administrativo. A pressa em sua edição resultou em ambiguidades legais e inconsistências que dificultaram sua implementação. Órgãos públicos e entidades reguladoras encontraram dificuldades para interpretar e aplicar as novas diretrizes, levando a um cenário de confusão e ineficiência administrativa. A insegurança jurídica gerada pela MP comprometeu a previsibilidade das normas, um fator crucial para o planejamento e a estabilidade das atividades empresariais. As reações à MP1227 foram imediatas e intensas. Diversas entidades empresariais e associações profissionais manifestaram-se contra a medida, apontando suas falhas e demandando uma revisão ou até mesmo a sua revogação. Parlamentares e líderes políticos também criticaram a falta de diálogo e a precipitação na edição da MP, o que pode levar a um desgaste político significativo para o governo.

A Acebra, desde o início, foi contra a medida, pois acreditava que ela elevaria custos e preços, tirando a competitividade da produção nacional. A edição da MP1227 pelo governo exemplifica como a pressa e a falta de planejamento podem resultar em medidas contraproducentes, gerando incertezas e dificuldades para a economia e a administração pública. Para evitar futuros equívocos, é essencial que o governo adote uma abordagem mais inclusiva e transparente, envolvendo todas as partes interessadas em um diálogo construtivo. Somente com planejamento cuidadoso e participação ampla será possível formular políticas públicas que realmente atendam às necessidades da sociedade e promovam o desenvolvimento sustentável. A economia e a sociedade brasileira não suportam mais custos excessivos do Estado.

Jerônimo Goergen

presidente da Associação dos Empresas Cerealistas do Brasil (ACEBRA)